Nunca me senti inteligente, divertida, segura, produtiva, magra ou bonita o suficiente. Qualquer dificuldade representava uma prova do universo de que eu jamais seria apta para desempenhar qualquer coisa. Eu me sentia uma farsa, constantemente. 

 

Achei que podia preencher o que me faltava com roupas novas e uma maquiagem que escondesse as olheiras de uma noite mal dormida e que resistisse as lagrimas que caiam ao final do dia. Mas o efeito era passageiro e eu sempre voltava a me sentir sozinha quando me despia da embalagem e da máscara que eu mesma criei.

 

Numa outra tentativa de preencher o vazio busquei arrumar uma pessoa interessante, me aventurei em relacionamentos com alguns caras legais, interessante e que pareciam fazer desaparecer qualquer sentimento negativo que me acometia. Uma cerveja gelada, algumas horas de conversa e boas risadas me ajudavam a preencher o vazio, mas tudo durava em média algumas semanas, logo depois todos desapareciam deixando o vazio e a sensação de insuficiência ainda maior dentro de mim. 

 

Mas o que eu esperava ao depositar tanta responsabilidade afetiva em alguém que mal conhecia? 

 

Além disso, como alguém conseguiria me amar se nem eu mesma me amava?

 

Eu estava atribuindo responsabilidades afetivas a terceiros sem mesmo assumir responsabilidade sobre as coisas que eu sentia.

 

Ao invés de buscar o que me faltava em paixões passageiras e lojas de departamento, reuni minha bagunça e fui parar na terapia pra tentar entender o que faltava dentro de mim. Entre lagrimas e muita angustia compartilhada eu descobri o quanto a vida tinha me dado pancadas e fragilizado minha segurança e autoestima. Eu duvidei da minha capacidade durante minha vida inteira, resisti sozinha postergando o cuidado que eu merecia e isso refletiu na minha distorção de mundo, das relações e do meu EU.

 

Eu me tornei minha maior inimiga. Me sabotava o tempo inteiro e não reconhecia o meu valor. 

 

O que me faltava não estava em lojas de roupas, perfumarias ou em rapazes divertidos. O que me faltava dinheiro nenhum era capaz de comprar. O que me faltava nenhum cara conseguiria me proporcionar. 

 

O que me faltava era autoconfiança e reconhecimento pessoal. 

 

O que me faltava era carinho e autocuidado com o ser humano que sou e continuo me tornando. 

 

O que me faltava era paciência para lidar com minha dor e com meus erros.

 

O que me faltava era acreditar em mim mesma.

 

O que me faltava era eu.

 

Com uma jornada de autoconhecimento e partição de angustia eu cheguei a conclusão de que nada me faltava, tudo que eu precisava sempre esteve em mim.

 

Eu só não conseguia enxergar que o que me faltava de fato era zelo e autocuidado para fazer as pazes com a menina que fui, com a garota que sou e com a mulher que estou me tornando diariamente.