Por uma vida um tanto menos ordinária...
13:24
Esses
dias eu conheci um mocinho na balada. Muito educado, gracinha, alguns anos mais
jovem. A aproximação dele aconteceu de forma direta e gentil, muito bem
orientada. Desde o início ele sabia o que queria e exalava a confiança (talvez
proveniente da extrema beleza) de que podia qualquer coisa que quisesse… Alguns
minutos conversando comigo, ele tentou um beijo. Não dei.
Não sei dizer ao certo porque sequer troquei telefone com
ele. Talvez — apesar do meu desejo — eu tenha usado aquela situação pra
refletir e perceber que o discurso feminista que a gente sustenta tanto, aquele
mesmo da independência e iniciativa feminina, pode gerar o efeito contrário
muitas vezes.
A gente estava tendo uma conversa deliciosa… Mas quando o
amigo chegou com seu olhar de reprovação vc-tá-nessa-ainda e o moço se deu
conta que havia passado 30, 40 minutos conversando apenas comigo em uma boate lotada
de gente (leia-se muitas possibilidades) retraiu-se. Fui educada e simpática,
agradeci a companhia e saí.
Por que contar essa história? Porque eu acho que toda
mulher merece um cara que gaste mais de 40 minutos, insistindo, conhecendo e se
deixando conhecer antes de tentar colocar a língua dentro da boca dela. Nada
contra a filosofia do “ficar”… Mas é que hoje eu vejo que a nossa vida perdeu
boa parte do romance. E da corte, do flerte, da conquista, da sedução… As
relações são quase todas fast-foods, e a gente tem tanta fome de viver, que vai
atropelando fases e vai atropelando tudo. E mata — sem se dar conta — o tempo
necessário pra perceber se aquela história podia ser mais… Se o cara era legal,
ou você era legal… vai saber.
Eu acho que eu tô ficando careta. Nunca achei que eu
fosse dizer isso, mas tô. Acho que a gente veio “deseducando” os homens durante
todo esse tempo, e deixou tudo tão fácil, tão disponível e tão acessível que
matou todo o encanto
Por que simplesmente não beijar o cara quando estiver com vontade? Por que relutar em atender a cada desejo e necessidade nossa (inclusive sexual) no instante mesmo em que elas aparecem? Afinal, não somos mulheres modernas? Respondo.
Por que simplesmente não beijar o cara quando estiver com vontade? Por que relutar em atender a cada desejo e necessidade nossa (inclusive sexual) no instante mesmo em que elas aparecem? Afinal, não somos mulheres modernas? Respondo.
Porque depois de um tempo, a maioria de nós reclama de
solidão e vazio. E não entende por que ele não percebeu que você é incrível e
te convidou para a festa da empresa. E se sente abandonada, sozinha… Fazer
um almoço completo, com uma salada gostosa, uma massa com molhos, temperos e a
proteína escolhida, pode dar o trabalho de ir pegar os tomates frescos na
feira, marinar o peixe, lavar as folhas, misturar condimentos, mas traz uma
experiência e um sabor que não podem ser comparados ao de passar no drive-thru
daquela loja de sanduíches e ingerir em dois minutos o cheeseburguer com bacon.
Eu não quero beijos fast-food, não quero sexo fast-food.
O cheeseburguer pode ter lá o seu espaço e o seu charme, mas é barato,
gorduroso, faz mal para o coração e deixa a gente se sentindo feia e inchada no
dia seguinte. Como nós, os homens também querem ser sacudidos até perderem o
juízo, também querem se sentir vivos. Também querem se apaixonar e — por mais
que ninguem — encontrar aquela que enlouquecerá suas cabeças. Me chamem de
quadrada, mas eu não acho que vai ser a moça cuja língua ele conheceu antes
mesmo de dar Oi. A mesma moça que depois, em casa, vai ficar se perguntando por
que histórias incríveis só acontecem no cinema.
(Ao moço dos olhos azuis que conheci numa noite de quarta em dezembro naquela boate do lago, saiba… eu teria dado o meu telefone a você)
(Ao moço dos olhos azuis que conheci numa noite de quarta em dezembro naquela boate do lago, saiba… eu teria dado o meu telefone a você)
-Elenita Gonçalves Rodrigues
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